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Xamanismo indígena para as grandes metrópoles

  • portalselvadepedra
  • 18 de nov. de 2020
  • 5 min de leitura

Atualizado: 24 de nov. de 2020

A expressão espiritual considerada a mais antiga do mundo, ganha notoriedade nas cidades


Representação de um casal indígena através de uma ilustração (Por: Portal Xamânico)


O Xamanismo é um conjunto de manifestações, ritos e práticas religiosas que busca estabelecer uma ligação com o sagrado. A prática espiritual se faz presente desde a idade da pedra, no período paleolítico. Suas primeiras aparições surgiram a partir de pinturas pré-históricas representados nas cavernas, apontando simultaneamente com com o nascimento da arte. Historiadores acreditam que a sua origem está na Europa, há pelo menos 40 mil anos atrás. No Brasil, assim como na Europa, a chegada dessa crença surgiu através dos povos nativos, sendo dirigida pela figura do pajé, que faz referência ao xamã. Durante as cerimônias ritualísticas, são utilizados cânticos, danças, instrumentos musicais e substância psicoativas, possibilitando a ampliação ou estados alterados de consciência.


Nos primórdios da humanidade, quando não havia distinção entre ciência e religião, diversos povos, cada um com o seu jeito, procuravam elementos da natureza ou conexão com seres espirituais. O xamã representado pelo pajé (responsáveis por guiar os rituais em tribos), é um termo utilizado pelos tungues, povo do nordeste da Sibéria, para se referirem "àquele que conhece".


No neo-xamanismo, muitos líderes se identificam como xamã, mas para Thais Garrido, indígena, 21 anos, moradora na cidade de São Paulo, acredita que nem todos podem se intitular dessa forma. “Diante da minha concepção natural indígena, normalmente pajés, xamã ou anciãos são os que trabalharam arduamente para cuidar de toda a sua egrégora. Não concordo com homens na maioria das vezes brancos que fazem workshop e se auto intitulam xamãs”.


Com a colonização, o povo que se desenvolveu adaptou-se a esse conhecimento ancestral à sua própria cultura, permanecendo os mesmos fundamentos. Muitos acreditam que devido a ramificação do xamanismo para as grandes metrópoles, a prática filosófica foi mais uma cultura indígena que o homem branco apropriou-se, tirando algo que sempre pertenceu aos índios.

Garrido, não enxerga como mais uma apropriação da cultura indígena para os hábitos urbanos. “Minha mãe e a minha vó são índias e, mesmo eu crescendo em cidades de pedras, desde pequena, sempre fui bastante ligada às tradições da família, porém, sem rótulos”. Ela conta que o seu primeiro contato com a ayahuasca foi no meio urbano. “O homem branco tem sim, essa questão de apropriação, mas no conceito de ayahuasca e rituais xamânicos, vi que foi uma prática mais para salvar as pessoas do que se apropriar. Eu mesma sendo indígena, nunca tinha consagrado o chá, mas foi preciso ir em uma casa daimista (centro de rituais xamânicos) para salvar minha vida das tentativas de suicídio”.

Indígena, Thais, leva consigo tradições nativas

para hábitos urbanos (Foto: Thais Garrido)


Essa prática espiritual sempre esteve restrita a etnografia indígena. De lá para cá, vem ganhando cada vez mais notoriedade nas grandes cidades. Mesmo acreditando que o xamanismo possuem a todos e contribui com um grande poder de cura, Thais mostra sua preocupação com casas que aplicam rituais xamânicos nas grandes metrópoles. “Mesmo com os seus benefícios de cura através de rituais, muitas vezes não vêm sendo um mar de rosas. Existem muitos seres se intitulando xamãs e usando a medicina para aplicar golpes, e em alguns casos até estupros”. Durante a pandemia, a rede feminista voluntária “Justiceiras”, que oferece apoio às mulheres, recebeu quase 2 mil de denúncias de violência contra o público feminino. Sendo deles 33 de abuso sexual causados por líderes religiosos.


Morando em Taboão da Serra, na cidade de São Paulo, a índia, empreendedora, administra uma página no Instagram com mais de 50 mil seguidores, através de mensagens e curiosidade xamânicas. Titulada como “Portal Xamânico”, a ideia de criar esse perfil é fazer com que as pessoas conheçam mais. Atualmente trabalha vendendo esotéricos, como: incensos, imagens xamãs e seres elementais, através de sua loja física e online “Gato de coçar”, nome do seu animal de poder. Mesmo oferecendo conteúdos do xamanismo nas redes sociais, acredita que não oferece poder de influenciar os internautas a conhecer essa prática espiritual. “Nós seres viventes somos portadores da mensagem e devemos passar, cabe ao espectador seguir ou não.”

Para ela, a prática espiritual está presente nos momentos em que as pessoas se auto conhecem, respeitando os animais, tendo zelo com o seu espaço e respeito as outras formas de vida. “Através das práticas e o respeito com a mesma, quando você adentra no xamanismo ou até mesmo quando você entende a relação entre o homem e a natureza, você passa a respeitar mais. Somos todos um, ela faz parte de mim e eu faço parte dela”. Por fim, define o xamanismo como vivências espirituais interiores ou exteriores. “Está atrelado ao amor aos animais, respeito ao próximo, há todos os seres existentes, fadas, duendes, a mãe terra, os alimentos e ao resgate a cultura”, finaliza.

Thais Garrido, de família indígena, utiliza de

práticas nativas para se conectar com a sua ancestralidade (Foto: Thais Garrido)


Neo-xamanismo: O Xamanismo urbano


Assim como o xamanismo nativo, o neo-xamanismo possui um papel fundamental no comportamento da vida de muitas pessoas que o frequenta, tentando resgatar os conhecimentos dos povos antigos, trazendo componentes culturais e filosóficos. Historicamente, insere-se nos movimentos sociais da natureza ou religiosa. O neo-xamanismo pode ser compreendido como o estopim da formação e origem das religiões.


O uso de símbolos nativos são comuns em casas xamânicas (Foto: Rodrigo Araújo)


Na história da cidade de São Paulo, traz consigo elementos culturais europeus e, principalmente, indígena. Paula Ferreira, historiadora e xamã urbana, explica a ramificação do xamanismo para os dias atuais. “É bem interessante essa questão, porque eu vim de um chamado indígena. Na época eu achava que consagrar a medicina e participar dos rituais fora da tribo sem a presença do índio, era muito estranho”. Para ela, não era esclarecedor. “Eu fazia vários questionamentos. Não achava justo tirar uma coisa tão limpa, tão pura da cultura indígena e trazer para esse espaço tão selvagem, pedra”.

Altar urbano (Foto: Rodrigo Araújo)


A pesquisadora conta que as coisas que ela segue e procura entender é ayahuasca. “O meu trabalho hoje é com ayahuasca. Mas vale ressaltar. que ela não é a única coisa que foi deixada na terra para as pessoas fazerem o uso, existem diversas outras plantas enteógenas que expande a consciência, como plantas de poder e plantas mestres”.


Segundo ela, os índios consumiam essas substâncias, em busca de conhecimentos espirituais para levar ao pessoal da tribo. A seguir, acompanhe a entrevista na íntegra:



Fundadora da casa terapêutica “Elefante Branco do Norte”, aplica os seus ensinamentos xamânicos para os membros há mais de 2 anos. No local, são utilizados a medicina do Rapé e da Ayahuasca em rituais indígenas, umbandas, católicos, etc.





“Sempre tive em meu coração de ter um templo, mas faço isso não para mim, mas sim para quem fica, os meus filhos”.






Paula Ferreira, fundadora do templo

"Elefante Branco do Norte"

(Foto: Rodrigo Araújo)

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